Manifestações culturais, enraizadas no folclore,
ultrapassam gerações e representam a essência do Festival Folclórico do
Amazonas. Rico na diversidade, a atração promovida pelo Governo do Estado
perdura há 65 anos com um formato democrático e popular, fomentando grupos
folclóricos nas comunidades e bairros de Manaus. Ao longo do tempo, muitos
deles passaram por alterações, ganharam novas formações, gestões, mas sem
perder a essência.
Ainda na década de 70, as apresentações do festival
folclórico migraram para diferentes locações: estádios Ismael Benigno (Colina),
Parque Amazonense, Vivaldo Lima (Vivaldão) até chegar em 1979, na denominada
“Bola da Suframa”. Posteriormente, o festival retornou ao Vivaldão, ocupou o
Sambódromo e, em 2007, com a inauguração do Centro Cultural Povos da Amazônia
(CCPA), na antiga Bola da Suframa, as agremiações voltaram a se apresentar no
local.
O processo foi de adaptação para muitos grupos
folclóricos. Um deles, “Marupiaras do Amazonas”, integrante da Categoria Ouro
do Festival Folclórico de Amazonas, soma mais de quatro décadas de
formação.
O desafio de colocar a quadrilha para dançar reflete a
relação de amor à cultura e à comunidade da fundadora e presidente, Margareth
Soutelo, a “Magá”.
“Dançamos no General Osório, no Nacional, e em vários
outros locais. Lembro de muitas vezes ter dançado no tablado da Bola da
Suframa, um tabladão de madeira que as pessoas batiam muito com os pés, fazendo
um barulhão”, recorda Magá, que hoje se orgulha da estrutura do atual espaço
destinado às apresentações. “Os quadrilheiros, quando vêm de fora, fazem questão
de conhecer pessoalmente o Povos da Amazônia. Sinal que o nosso local é bom”,
disse a fundadora.
A quadrilha passa por várias gerações e concentra mais de
10 integrantes de uma mesma família. Elson Rocha assume o posto de marcador e
Andreia Rocha, no papel de noiva. Ambos são filhos da fundadora e presidente.
“Marupiaras surgiu com meu pai e minha mãe, e sempre foi uma quadrilha de
adulto, não podia dançar menores de quinze anos, então mesmo no meio da
quadrilha, eu distribuía flores, era figurante. Passei a ser marcador e hoje
são 15 anos nesta função e sempre com nota 10”, comemora Elson.
“Eu danço quadrilha há 40 anos, dancei grávida de todas
as minhas filhas e realmente é um grupo familiar, que adotamos outra família,
que são os quadrilheiros. É uma representatividade muito grande na minha vida.
É a minha maior diversão”, revela Andreia.
A persistência do grupo culminou com a construção da sede
própria, reconhecida pela Confederação Brasileira de Quadrilhas, como o único
ginásio de quadrilha do Brasil.
Relações culturais
A tradição também é o ponto de chave da Brotinhos de
Petrópolis, fundada há 40 anos. A quadrilheira Lisia Barca, acompanhou o
crescimento do grupo, que nasceu como uma brincadeira entre amigos, para ocupar
o tempo ocioso da juventude da época.
Na infância, ela foi por seis anos a noiva da quadrilha,
contudo, deixou de dançar, mas se manteve participativa na direção do grupo. E
se preciso for, ela afirma que garante o bailado. “Onde tem Brotinhos eu vou
como convidada especial, danço, sempre cubro alguém que faltou, porque eu sei
como se faz tudo. Eu continuo até hoje”, afirma Lisia, que recorda bem dos
tempos do “tabladão”.
“Hoje, voltar para um local megaestruturado é
emocionante. Passar esse tempo todo sem pisar na Bola da Suframa e voltar ao
mesmo local como Povos da Amazônia é uma honra”, revela Lísia que neste ano vai
encarar a arena como convidada especial.
Quem também tem história com a Categoria Ouro do Festival
Folclórico do Amazonas é Isaac Freitas. Ele está no festival há 47 anos e conta
que já passou por diversos grupos folclóricos. Hoje, aos 58 anos, Isaac é o
apresentador do festival, lugar que, segundo ele, jamais imaginou ocupar.
“Estou há dois anos apresentando o festival e representa uma gratidão tão
grande estar aqui do outro lado, vendo tudo isso por onde eu já passei. É uma
alegria muito grande”, finaliza Isaac, acrescentando que atualmente os filhos e
netos fazem parte do Boi Bumbá Garanhão, além de outros familiares integrarem
grupos de danças folclóricas, se confirmando o legado cultural que entrou para
a família.